quinta-feira, 21 de outubro de 2010

O Retorno e suas Particularidades

 Segundo Verger e Freire,o ponto de retorno de famílias de regiões distintas de Angola foi a cidade de Moçamedes,apontada como principal ponto de retorno.Possivelmente deveriam existir junto as famílias angolanas,um pequeno número de famílias oriundas de São Tomé e Príncipe,Congo Brazaville,República Democrática do Congo e Moçambique,uma vez que  Moçamedes era a referência regional mais próxima  destas nações.Deste conjunto de nações,São Tomé e Príncipe apresenta importantes referências para pesquisa, das quais podemos destacar a seguinte determinação da Coroa Portuguesa:
 “A partir de 18 de outubro de 1773, é lembrado que em conformidade com a ordem recebida, será absolutamente obrigatório fazer escala de retorno em uma das ilhas de São Tomé e Príncipe, sob pena de pagar uma taxa duplicada em relação aquela que se tem por costume pagar”.
Esta determinação é confirmada por Clément da Cruz em seu livro “A Família Aguidissou”, que é uma família de etnia Fon da República do Benin, que segundo o autor,fez o retorno para o Benin,saindo de São Tomé e Príncipe.
     Uma outra particularidade sobre o retorno e de São Tomé,é o caso de Padre Antonio,descrito abaixo na integra:
“Padre Antonio tinha nascido,em São Tomé,em 1799,época em que o tráfico de escravos era dos mais.Com dez anos,foi vendido a um traficante e enviado para o Brasil,onde o comprou Dom Romualdo,prior do Convento do Carmo na Bahia;Antonio viveu no convento e foi emancipado pouco depois.Ele acompanhou o movimento de retorno à África e,chegando a Lagos,construiu uma capela de bambu,onde os emancipados que voltavam se reuniam para cantar hinos sob sua direção...”(Pierre Verger – Fluxo e Refluxo pág.635)
Essas afirmações evidenciam que muitos africanos emancipados,fizeram a viagem de retorno e,nem sempre a sua região de origem,como é o caso de Padre Antonio,que desde criança no Brasil,conviveu com  africanos vindos do oeste da áfrica e que viveram no
Estado da Bahia,de onde saíram várias embarcações de retorno nas quais alguns africanos ainda que não retornassem ao seu país de origem seguiam as famílias com as quais conviviam.
     Uma outra contribuição para o entendimento deste fluxo,está contido na carta  de Sir Cornelius Alfred Moloney, governador da Colônia de Lagos na Nigéria, a Sir Henry T.Holland Bart datada de 20 de Junho de 1887,que diz:
“Havia 1237 repatriados do Brasil em 1871, e cerca de 2732 em 1881;durante os cinco últimos anos 1882-1886,chegaram 412 por veleiros;entre os quais 50 mulheres e 17 crianças”.
Este trecho,nos leva a acreditar que dentre estes números citados por Sir Cornelius Alfred Moloney,existia um percentual,ainda que desconhecido, de famílias angolanas e santomenses,que seguiram nestas viagem ao Golfo do Benin,já que São Tomé era ponto de escala obrigatório para essas viagens.
Ainda relacionado a São Tomé destacamos  a chegada de 24 africanos  na Bahia,em 24 de junho de 1841,vindos da ilha de São Tomé a bordo do navio português Conceição todos munidos de passaportes do governo daquelas ilhas, com o título de Colonos. Era parte do movimento de ida e volta de africanos livres entre a baía de Benin e a Bahia. (Pierre Verger-Fluxo e Refluxo)
Referências
Centro de História da Família
Rua Silva Teles 99 Andaraí-Rio de Jane iro /Brasil
Clément da Cruz, Apports dês anciens esclaves brésiliens du Benin, UNESCO, 1983.
Clément da Cruz, The Cultural Contribuition of Blacks of Diáspora to África,
Article-Cotonou, 1983
Marianno Carneiro da Cruz – Manuela Carneiro da Cunha, Da Senzala ao Sobrado,
Nobel – Edusp, 1985
Mauricio Goulart- A Escravidaõ Africana no Brasil: Das Origens a Extinção do Tráfico
Editora Alfa-Omega 1975
Nei Lopes, Novo Dicionário Banto do Brasil, Selo Negro Edições 2006.
Nei Lopes, Bantos, Malês e Identidade Negra,.Forense Universitária 1988
O Futuro Começa Agora - República de Angola
Pierre Verger, Fluxo e Refluxo do Tráfico de Escravos entre o Golfo do Benin.
e a Bahia de Todos os Santos,Editora  Corrupio,1987
Visconde de Sá da Bandeira, Factos e Considerações Relativas aos Direitos de Portugal, Lisboa – Imprensa Nacional, 1855.

Um comentário:

  1. bom dia,

    1-Estou fazendo mestrado em aix en provence, na França, em antropologia. Estive no Bénin e estou estudando o fenomeno dos retornados. Nao consegui encontrar, na net, os artigos de Clément da Cruz, se voce tiver acesso, tem como me passa-los, por favor?

    2-afinal, houve em Angola uma quantidade significativa de retornados, como no golfo do bénin? ou foram apenas uns poucos individuos? Sabe onde posso ter mais informaçoes?

    Obrigado,

    Joao Augusto de Athayde
    deathayde1@hotmail.com

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