terça-feira, 26 de outubro de 2010

Síntese Histórica de Angola

A chegada dos primeiros europeus data de fins do século XV, em 1482, quando o navegador Português Diogo Cão aportou à foz do rio Congo ou Zaire. Na então capital do reino do Congo,  a ainda hoje existente cidade de Mbanza Congo, no norte de Angola, o rei recebeu os estrangeiros como amigos e deixou-os converter ao cristianismo, tomando o nome de Afonso I, criando assim uma aliança entre os dois estados. Ao longo do século XVI, e depois de contínuos e complicados jogos de sedução, intrigas e traições começaram a acentuar os laços de dependência do reino do Congo em relação à Coroa portuguesa. Do reino do Congo dependiam outros reinos menores mais a sul, como o da Matamba e o do Ndongo, de cujos soberanos, os ngola, provirá mais tarde o nome de Angola. A resistência desses três reinos à penetração colonial será practicamente esmagada na segunda metade do século XVII, no curto espaço de vinte anos: Congo (1665), Ndongo (1671), e Matamba (1681). Em 1700 os portugueses dominavam em Angola uma área de 65 mil quilómetros quadrados, com o único objectivo de manter abertas as rotas de escravos- mercadoria dominante do comércio naquela época, os quais eram exportados para Portugal, Brasil, Antilhas e América Central. No trecho da carta enviada ao El-Rei D.João V, redigida por Francisco Xavier da Silva,e impressa em Lisboa em 1750,vemos a importância da região para Portugal..
“Sabendo Sua Majestade, que alguns Armadores ou Piratas Ingleses, com a ambição e interesse do comércio tinham feito um estabelecimento na Costa da Guiné, no sítio de Cabinda, que há entre Angola e Congo ao norte do Rio Zaire, que então estava inabitado; mandou logo ao capitão de Mar e Guerra Joseph de Semedo Maya, na Nau Nossa Senhora de Atalaya, com todo o petrecho necessário, a remediar aquele excesso.”
 Em fins do século XVIII, Marquês de Pombal, o todo poderoso ministro do Rei de Portugal, fez uma tentativa de se explorar as riquezas do país, contudo a tentativa falhou por falta de apoio da metrópole que estava mais interessada no desenvolvimento do Brasil com base nos escravos angolanos. Angola teve assim de continuar a manter o seu título de “mina da escravaria”. A conferência de Berlim, em 1885, estabeleceu o direito público colonial e tratados entre Portugal, França, o Estado Livre do Congo (Belga), Grã-Bretanha e Alemanha definiram as fronteiras actuais de Angola. Para os angolanos, a abolição do tráfico de escravos em 1836 e o fim oficial da condição do escravo em 1878 não alteraram o fundo da questão, continuando a exploração das grandes massas trabalhadores angolanas por parte do poder colonial a ser feita sob forma do chamado contrato. Essa situação vai agravar-se com a poliítica colonial do regime de Salazar, a partir dos anos 30 do século XX.
As lutas de Libertação de angola tiveram inicio nos anos 60 a que se seguiu a proclamação da Independência em 11 de Novembro de 1975.


A Genealogia e os Parâmetros para Pesquisa

 
 “ Brasileiros de Angola”é denominação que usamos para enfatizar os escravos oriundos  de Angola,mencionados por Pierre Verger e Gilberto Freire,que foram retornados ao país de origem.O objetivo do estudo é a localização e a genealogia destas famílias. Estatisticamente sabemos que um grande número de angolanos vieram para o Brasil e foram  responsáveis junto a outros povos pela  formação do povo brasileiro.
     Ao longo da pesquisa tive oportunidade de ouvir  relatos  das  Famílias Seixas , Moreira e Vilela ,todas da cidade de Angra dos Reis,descendentes de angolanos acerca da  conexão com seu país.O  encontro  com o escritor e historiador angrense Alípio Mendes( falecido), bem como o exame de  documentos históricos, estimulou a elaboração deste trabalho.
A síntese do fluxo  da chegada de navios transportando angolanos para o Brasil está descrito na tabela abaixo.

Registro de Embarcações oriundas de Cabinda, Molembo e Kacongo.
Briques, Galeras e Goletas.

Nome
Data da Chegada ao Brasil
Origem
Passageiro
Juliana
12 de Julho de 1821
Cabinda
460 Africanos
Zefiro
11 de Julho de 1823
Molembo
299 Africanos
Rosália
17 de Fevereiro de 1824
Molembo
406 Africanos
Henriqueta
03 de Novembro de 1825
Molembo
504 Africanos
Henriqueta
11 de Março de 1826
Molembo
441 Africanos
Henriqueta
01 de Agosto de 1826
Molembo
524 Africanos
Henriqueta
26 de Março de 1827
Molembo
544 Africanos
Felicidade
09 de Junho de 1827
Cabinda
505 Africanos
Santo Antonio
09 de Janeiro de 1829
Cabinda
270 Africanos
Bebiana
18 de Julho de 1829
Kacongo
180 Africanos
Bonfim
18 de Julho de 1829
Molembo
128 Africanos
Bonsucesso
24 de Julho de 1829
Cabinda
225 Africanos
Carlota
29 de Julho de 1829
Molembo
368 Africanos
Fortuna
11 de Agosto de 1829
Cabinda
640 Africanos
Leal Portuense
06 de Novembro de 1829
Cabinda
568 Africanos
Paquete Africano
20 de Janeiro de 1830
Cabinda
340 Africanos
Esperança
27 de Janeiro de 1830
Cabinda
422 africanos
Maria Thereza
31 de Janeiro de 1830
Molembo
315 africanos
Maria
28 de Fevereiro de 1830
Cabinda
330 Africanos
Temerária
05 de Março de 1830
Cabinda
329 Africanos
Amazona
15 de Março de 1830
Kacongo
402 africanos
Carlota
29 de Março de 1830
Kacongo
279 Africanos
Flor da Etiópia
29 de Março de 1830
Kacongo
129 Africanos
Umbelina
20 de Novembro de 1830
Cabinda
376 Africanos
Aurélia
27 de Dezembro de 1830
Molembo
251 Africanos
 

domingo, 24 de outubro de 2010

Os Brasileiros de Angola


Quem são e onde estão os Descendentes destes Retornados?
Concessão de passaportes em massa para Moçamedes
De 1824 a 1826, em vinte e cinco meses, apenas 16 passaportes.
De 1828 a 1829, em quinze meses, 141 passaportes.
 Em 1830 por um lado, e em quatro meses de 1834, mais os nove primeiros meses 1835, foram expedidos 95 passaportes.
No decurso dos três últimos meses de 1835, foram concedidos 362 passaportes, representando um total de 120,7 partidas de famílias por mês.
Em janeiro de 1836 foram concedidos 93 passaportes.
Entre 1835 e 1838, foram concedidos 818 passaportes.
Em 1837, foram concedidos  77 passaportes em 10  meses.
Entre 1845 e 1846 foram concedidos 1336 passaportes.
Apesar das descrições de Verger e Freire, ressaltamos que era comum os portugueses batizarem os africanos em suas colônias e regiões que dominadas dando-lhes nomes e sobrenome portugueses,diante desta particularidade torna-se importante considerar os sobrenomes portugueses como parâmetro de pesquisa genealógica.
A exemplo disso podemos mencionar a “família da Sylva” da Nigéria, que não pertence a Comunidade Agudá e nem outra de retornados e também nunca teve nenhum membro de família que veio para o Brasil como escravo.Quando indagamos o porque deste nome,a resposta foi que os missionários portugueses batizaram seus antepassados e o nome continuou  até os dias atuais.
Denominações
Apesar de nos dias atuais, haver grande movimentação de brasileiros para Angola e reciprocidade dos angolanos, não temos conhecimento de nenhuma denominação de comunidade de brasileiros retornados para aquele país, como por exemplo, os Agudás do Benin e Nigéria, Tabom de Ghana e Amaro no Togo. Talvez o longo processo de guerra em que viveu Angola, não tenha possibilitado uma interação maior entre estes retornados e seus descendentes.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

O Retorno e suas Particularidades

 Segundo Verger e Freire,o ponto de retorno de famílias de regiões distintas de Angola foi a cidade de Moçamedes,apontada como principal ponto de retorno.Possivelmente deveriam existir junto as famílias angolanas,um pequeno número de famílias oriundas de São Tomé e Príncipe,Congo Brazaville,República Democrática do Congo e Moçambique,uma vez que  Moçamedes era a referência regional mais próxima  destas nações.Deste conjunto de nações,São Tomé e Príncipe apresenta importantes referências para pesquisa, das quais podemos destacar a seguinte determinação da Coroa Portuguesa:
 “A partir de 18 de outubro de 1773, é lembrado que em conformidade com a ordem recebida, será absolutamente obrigatório fazer escala de retorno em uma das ilhas de São Tomé e Príncipe, sob pena de pagar uma taxa duplicada em relação aquela que se tem por costume pagar”.
Esta determinação é confirmada por Clément da Cruz em seu livro “A Família Aguidissou”, que é uma família de etnia Fon da República do Benin, que segundo o autor,fez o retorno para o Benin,saindo de São Tomé e Príncipe.
     Uma outra particularidade sobre o retorno e de São Tomé,é o caso de Padre Antonio,descrito abaixo na integra:
“Padre Antonio tinha nascido,em São Tomé,em 1799,época em que o tráfico de escravos era dos mais.Com dez anos,foi vendido a um traficante e enviado para o Brasil,onde o comprou Dom Romualdo,prior do Convento do Carmo na Bahia;Antonio viveu no convento e foi emancipado pouco depois.Ele acompanhou o movimento de retorno à África e,chegando a Lagos,construiu uma capela de bambu,onde os emancipados que voltavam se reuniam para cantar hinos sob sua direção...”(Pierre Verger – Fluxo e Refluxo pág.635)
Essas afirmações evidenciam que muitos africanos emancipados,fizeram a viagem de retorno e,nem sempre a sua região de origem,como é o caso de Padre Antonio,que desde criança no Brasil,conviveu com  africanos vindos do oeste da áfrica e que viveram no
Estado da Bahia,de onde saíram várias embarcações de retorno nas quais alguns africanos ainda que não retornassem ao seu país de origem seguiam as famílias com as quais conviviam.
     Uma outra contribuição para o entendimento deste fluxo,está contido na carta  de Sir Cornelius Alfred Moloney, governador da Colônia de Lagos na Nigéria, a Sir Henry T.Holland Bart datada de 20 de Junho de 1887,que diz:
“Havia 1237 repatriados do Brasil em 1871, e cerca de 2732 em 1881;durante os cinco últimos anos 1882-1886,chegaram 412 por veleiros;entre os quais 50 mulheres e 17 crianças”.
Este trecho,nos leva a acreditar que dentre estes números citados por Sir Cornelius Alfred Moloney,existia um percentual,ainda que desconhecido, de famílias angolanas e santomenses,que seguiram nestas viagem ao Golfo do Benin,já que São Tomé era ponto de escala obrigatório para essas viagens.
Ainda relacionado a São Tomé destacamos  a chegada de 24 africanos  na Bahia,em 24 de junho de 1841,vindos da ilha de São Tomé a bordo do navio português Conceição todos munidos de passaportes do governo daquelas ilhas, com o título de Colonos. Era parte do movimento de ida e volta de africanos livres entre a baía de Benin e a Bahia. (Pierre Verger-Fluxo e Refluxo)
Referências
Centro de História da Família
Rua Silva Teles 99 Andaraí-Rio de Jane iro /Brasil
Clément da Cruz, Apports dês anciens esclaves brésiliens du Benin, UNESCO, 1983.
Clément da Cruz, The Cultural Contribuition of Blacks of Diáspora to África,
Article-Cotonou, 1983
Marianno Carneiro da Cruz – Manuela Carneiro da Cunha, Da Senzala ao Sobrado,
Nobel – Edusp, 1985
Mauricio Goulart- A Escravidaõ Africana no Brasil: Das Origens a Extinção do Tráfico
Editora Alfa-Omega 1975
Nei Lopes, Novo Dicionário Banto do Brasil, Selo Negro Edições 2006.
Nei Lopes, Bantos, Malês e Identidade Negra,.Forense Universitária 1988
O Futuro Começa Agora - República de Angola
Pierre Verger, Fluxo e Refluxo do Tráfico de Escravos entre o Golfo do Benin.
e a Bahia de Todos os Santos,Editora  Corrupio,1987
Visconde de Sá da Bandeira, Factos e Considerações Relativas aos Direitos de Portugal, Lisboa – Imprensa Nacional, 1855.